quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Recauchutando o Cinema

O sociólogo italiano Domenico de Masi prega o ócio criativo, aquele tempinho livre que todo trabalhador deveria ter para criar, ter boas idéias. Talvez a máquina do cinema moa num ritmo tão frenético, que não haja tempo para tal período inventivo. Talvez, por isso, as boas idéias no cinema tenham se perdido em algum lugar do passado, restringindo-se, hoje, a alguns lampejos aqui e ali.
Isso explica, em parte, a febre de remakes e de filmes baseados em quadrinhos, livros, desenhos animados e antigas séries de TV, que acomete Hollywood. Como na química de Lavoisier, 'nada se cria, tudo se transforma', mas talvez muito se perca.
Tal recauchutagem de idéias traz uma constante sensação de Déjà Vu. Dificilmente se vai a uma sala de cinema e se assiste a uma idéia original, algo que não seja transposto da literatura ou da televisão dos anos 70 e 80. O que não é de todo ruim, já que alguns livros merecem ser adaptados e ter suas histórias apresentadas a uma massa maior. Há desenhos animados e quadrinhos que queremos ver na telona. Mas alguns remakes incomodam. Algumas produções deveriam ser 'tombadas', como patrimônio histórico da humanidade, quer seja pela qualidade técnica ou pela importância cultural que possuem.
Refilmar clássicos como Cidadão Kane, O Dia Em Que A Terra Parou e Os Pássaros - como alguns realizadores de Hollywood pretendem - é um sacrilégio, um crime contra o cinema. Filmes como esses, mesmo não havendo perfeição, são plenos. Não precisam, nem merecem, ser refeitos.
A refilmagem é bem-vinda quando agrega valor. Quando aproveita a tecnologia vigente para somar a um bom argumento ou roteiro, outrora rodado. É válida ainda para contar de maneira mais eficiente um argumento desperdiçado, uma história mal contada, anteriormente.
Hollywood, no entanto, tem se aproveitado de refilmagens para camuflar a falta de novas idéias artísticas de seus realizadores e para, é claro, fazer dólares.
Fala-se em requentar histórias como Sexta-Feira 13, Piranha e Homem-Invisível, dentre outros.
Mas trata-se de uma indústria e não do laboratório de Professor Pardal, o leitor pode estar dizendo. É capitalismo e não filantropia artística, pode pensar. Porém, deveria haver um código de honra, como o da máfia. Como Sonny Corleone mostra ao quebrar a máquina fotográfica de um paparazzi e jogar dinheiro no chão para cobrir o prejuízo, no início de O Poderoso Chefão. Os chefões do cinema deveriam ter tal código de honra para não pichar alguns pilares do cinema mundial.
Não se espante se, daqui a uns dez anos, vir um cartaz de Titanic 2018, com os nomes de Freddie Highmore (A Fantástica Fábrica de Chocolate) e Abigail Breslin (Pequena Miss Sunshine), vivendo Jack e Rose. E Leonardo DiCaprio vivendo o capitão do transatlântico, numa justa homenagem ao astro do primeiro filme.
Será o cinema de hoje sendo recauchutado amanhã.

Um comentário:

Céu disse...

Se um editor de revista ler esse teu texto te contrata na hora... Lamento pelos seus alunos, como já tirei proveito das aulinhas apoio em gênero, número e grau a mudança de área.
Um talento oculto desses...Nossa. Entre outros tantos claro.
;)